Cantar no Carmelo é sair um pouco do tempo
presente e mergulhar em um mundo específico, distante temporalmente do que
vivemos. Ver as irmãs depois de alguns anos é sentir proteção, apesar da
distância física. Os olhos delas são sempre diretos, sem fugas, nos mirando e expressando
uma profunda felicidade com o nosso retorno. E para uma proximidade com esse
sorriso - sem pagas, sem afetações, sem fingimentos - vale o acotovelamento, no
final, para se chegar perto delas...
Cantar por e para elas é ter a certeza de
que a música feita é sempre funcional, escolhida a dedo por elas mesmas,
cantada em bom e severo latim, porque elas são musicistas e sabem muito bem o
que escolhem e o que querem ouvir. Mas trata-se de uma severidade que não se
encontra nas nossas reservas estéticas de músicos profissionais, mas, sim, na
busca diferenciada pelo mistério da celebração e da fé.
Na simplicidade funcional, um Kyrie não é
uma estrutura ABA, mas o “Senhor, tende piedade de nós”, que é dito três vezes,
alternado com o “Cristo, tende piedade de nós”, mais três vezes, e a repetição
do primeiro. E que não nos percamos na interpretação de todas as outras partes
da missa, cada uma com sua especificidade: de “glorificação”, de “profissão de
fé”, de “alegria plena” e, assim, vamos na constituição do ritual pleno da
missa católica.
Mas, então, o Madrigale (e o maestro) é um
coro católico? Tão católico quanto protestante na vivência da especificidade da
interpretação dos Negro spirituals ou das Cantatas e Paixões de
Bach... Belo mesmo é a vivência da música funcional, tão diferente da
sua existência quando nas salas de concertos...
(Fotos: Ana Cristina Pimenta)
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