Reflexões em torno de
elementos básicos da Regência Coral
Encerro
a sequência de posts sobre as reflexões de Carlos Alberto Pinto Fonseca com
este texto sobre técnica de regência. É claro que o assunto interessa mais
especificamente aos músicos, mas não deixa de ser um bom documento de
investigação do pensamento do maestro mineiro. Não postarei um dos tópicos,
aquele referente à técnica vocal, por considerar que há muitos outros blogs,
livros e, consequentemente, opiniões que dizem respeito ao cantores e que podem
gerar discussões não pertinentes ao que objetivamos que é a visão de aspectos
corais. Sendo assim, vamos a este interessante objeto:
E.
TÉCNICA DO GESTO OU REGÊNCIA
É a técnica de dirigir um conjunto
de cantores, conjunto de instrumentos (ou a reunião de ambos) através de uma
linguagem universal do gesto
UNIVERSAL porque baseada em princípios universais. UNIVERSAL aqui
significa compreensível em qualquer parte do globo terrestre. E o oposto de
regional: princípio válido só para determinada região ou agrupamento humano.
Mais ainda, no caso da Regência, é o oposto de INDIVIDUAL. Assim, um regente
que tiver sua técnica baseada em princípios universais se ela estiver bem
construída e se a formação do regente é adequada, este poderá reger qualquer
conjunto, em qualquer lugar da Terra que se fará compreender imediatamente e
alcançará os resultados almejados. Ao contrário (e isto acontece muito com
regentes corais improvisados), se ele tem uma “técnica” individual, acaba
compreendendo e seguindo (até certo ponto, dependendo de sua intuição ou
talento), como se fosse um código entre maestro e seu conjunto, algo só para os
seus “iniciados”... Porém (e já vimos isto, na prática), o mesmo maestro vai
reger um outro coro, ou vai reger orquestra e... ninguém o entende – fracassa.
Já houve mesmo o caso, muito comentado no Rio, de um determinado maestro de
coro, europeu, que veio contratado para reger a OSN e, após ensaiar ou tentar
fazê-lo, foi mandado de volta para seu país de origem: - ninguém entendia seu
gesto. Era simplesmente um regente de coro, que devia ser entendido pelo seu
próprio conjunto mas, diante de uma orquestra profissional, não conseguiu se
fazer entender.
Aqui precisamos fazer outra
distinção: entre MOVIMENTO ESPACIAL e MOVIMENTO INDIVIDUAL. Uma bailarina faz
um “arabesco” no ar com as mãos: é movimento
individual. Um avião a jato (incapaz de movimento individual) faz no céu um
“looping” ou um “oito” e dizemos: - “o voo do avião é bonito”: é movimento espacial. O corpo ou objeto
desloca-se por inteiro, no espaço, mas nossos olhos acompanham seu movimento e
nossa memória interrelaciona os pontos
que percorre, dando-nos o “desenho” do movimento, Esse desenho podemos
reproduzir no quadro-negro, no papel.
No caso do gesto, o movimento espacial
é essencial para a clareza do “desenho”: todo
o braço do Regente se desloca por igual, da ponta dos dedos ao ombro. No
caso da Regência de Orquestra, que necessita mais clareza, a batuta ajuda
termos um desenho mais claro ainda. O movimento individual prejudica a clareza,
não havendo unidade no movimento, ele se rompe (no braço/mãos) em articulações
que confundem o olhar pela diversidade de pontos simultâneos incoerentes entre
si. Vocês podem alegar que há momentos em que a música a ser executada exige
clareza e precisão do gesto, enquanto outros exigem é expressividade, intensidade
emocional. Certo. E isto está ligado às duas correntes mais antigas da
Regência: a “prussiana” e a “francesa”. A prussiana, preocupada com a precisão
e a clareza, é “angulosa”, bate os tempos do compasso, marcando pontos
determinados visualmente no espaço, como os “pontos cardeais”, ligados por
segmentos de reta, isto é, entre cada ponto, a “batuta”, ou o dedo da Regência
vai pelo caminho mais curto: “o segmento retilíneo que os liga”. Se é clara,
tal regência é dura, anti-expressiva. Em oposição, a regência francesa antiga,
vinda da prática do “gregoriano”, também chamada “quironômica”, é toda em
curvas. Não sendo escrava do compasso, a música gregoriana desenvolveu um tipo
de gesto que acompanha suas flutuações e os desenhos de seus “melismas”, daí uma
técnica de regência altamente expressiva e que pode tornar-se ineficiente na
medida em que necessito da clareza do compasso e de caracterizar pontos – os
tempos ou suas subdivisões – articulados no espaço visualmente. Aqui cabe a
pergunta: não se poderia criar uma técnica que reunisse as duas tendências no
que têm de positivo e necessário, eliminado seus defeitos? – SIM. MAS ISTO É
RELATIVAMENTE RECENTE.
A TÉCNICA MODERNA TEM TUDO ISTO E
TEM AINDA MAIS: permite a seu possuidor a possibilidade de literalmente “TOCAR”
o conjunto como se fosse um instrumento.
Quando o regente não tem tal técnica
ele saca no concerto aquilo que ensaiou, que treinou nos ensaios. Quando
consegue atingir a proporção entre o gesto e a música e transforma tal
conquista numa aquisição própria, que se torna nele uma segunda natureza,
então, estará apto a CRIAR, a cada vez que reger: todos o seguirão nos mínimos
detalhes do fraseio, dinâmica, agógica, tempo, articulação, etc. E ISTO, PARA
UM VERDADEIRO ARTISTA, É FONTE DAS MAIS GRATAS EMOÇÕES E SATISFAÇÕES ESTÉTICAS,
PERMITINDO UMA RARA COMUNHÃO ENTRE REGENTE-CORO-PÚBLICO.
Para chegar lá, porém, é preciso
muito trabalho sob orientação adequada. Isto é, pois, a META. Voltamos agora
aos princípios básicos “universais”, sobre os quais se pode construir tal
técnica. O primeiro passo foi unir as duas escolas: conservou-se os “pontos
cardeais” das figuras dos compassos, usados pela regência “prussiana” e, entre
tais pontos, em vez de deslocamento retilíneo, colocou-se curvas. Quanto mais a
música necessitasse precisão, ficaria a regência mais angulosa, retilínea,
marcando os pontos de inflexão das figuras dos compassos; quanto mais devesse
ficar expressiva, mas “redonda” se tornaria, mais curva, “adoçando” os pontos
de inflexão, que passariam a ser visualizados mais pelas mudanças de direção do
gesto. (E, numa pequena frase musical podemos encontrar os dois oposto, donde
ser uma regência muito mais rica de recursos, mais completa, mais adequada às
variáveis da música!.
Em relação aos COMPASSOS, podemos
relacioná-los com os motores à explosão, quanto aos tempos: motores de 2
tempos, e tempos ou 4 tempos (compassos simples).
OBS:
TEMPO, aqui, é o METRO, a PULSAÇÃO básica do ritmo (equivalente ao quadrinho do
desenho quadriculado), à “batida do coração”, o pulsar do motor. (Música que
põe ênfase no METRO, é “motórica”)
Em relação às figuras que desenham
ou marcam os compassos, vamos pesquisar um pouco, refazer o caminho que os
mestres criadores da nova técnica palmilham. Primeiramente, vamos nos indagar
algo que todos achamos que sabemos: - O QUE É COMPASSO? Vamos dar uma definição
curta: é o espaço compreendido entre duas tesis. O QUE É TESIS? Pé no chão, segundo a métrica grega.
Apoio. (Que muita gente boa confunde com ACENTO...) É o oposto de ARSIS,
palavra grega que significava pé no ar. (Na prosódia: sílaba tônica = tesis;
sílaba átona = arsis).
Assim, um compasso de dois tempos
(binário) seria: um tempo tesis,
outro tempo arsis; - um compasso de
três tempos (ternário): 1º. tempo – tesis;
2º. e 3º. tempos – arsis; - um
compasso de quatro tempos (quaternário): 1º. tempo – tesis; 2º. e 4º. tempos – arsis, sendo que no 3º. pode pode o
que no 3o.trê teois tempos (binsignificava pmos que sabemos: - O QUE azer o
caminho que os mestres criadores da nova thaver uma “meia tesis” o meio apoio (mas não
necessariamente, principalmente em tempos rápidos).
E aqui, nosso primeiro princípio
universal: em qualquer lugar do mundo atua a leia da gravidade. Portanto, toda
noção de apoio é para baixo. Por isso, toda tesis,
todo tempo 1 (um) deve ser embaixo, precedido pela linha vertical que o indica
pela queda livre do braço relaxado.