Ao retomar o semestre, saído da
solidão reflexiva do doutorado, tomei como ponto de partida, e de recolocação
mundana, a tarefa árdua e prazerosa de trabalhar os coros que rejo em aspectos
técnicos que são essenciais para a qualidade deles (em coros, parafusos devem
ser apertados eventualmente, sob risco de perdermos a disciplina do ritmo, da
afinação, da harmonia e do equilíbrio). No meu caso, prefiro sempre trabalhar
pontos específicos com peças referenciais. Sem entrar nos segredos do que está
defasado em algum dos coros, uma das peças de referência do semestre, para os
trabalhos com o Madrigale, é o moteto Super flumina Babylonis, do
compositor italiano Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594), ou,
simplesmente, Palestrina. Essa peça é especial para mim por remeter aos meus
tempos de menino cantor, além de mostrar a dramaticidade atingida na alta
Renascença por esse grande compositor.
Um moteto é uma composição
coral que não existe sem um texto para lhe dar forma. Os temas musicais,
geralmente curtos na Renascença, mudam à medida em que as frases textuais se
modificam. Então, não tentem ouvir um moteto procurando similaridades entre uma
parte e outra. O texto do Super flumina são os versículos 1 e 2 do Salmo
136, que fala do exílio do povo hebreu na Babilônia e seu sofrimento quando se
lembravam da terra natal:
‘Às margens dos rios da
Babilônia, nos assentávamos chorando, lembrando-nos de Sião.
Nos salgueiros daquela terra,
pendurávamos, então, as nossas harpas.’
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