quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Miserere pelo qual Mozart foi quase excomungado


É sabido, no meio musical, que Mozart tinha uma memória prodigiosa. Conseguia se lembrar de trechos musicais inteiros tendo ouvido apenas uma vez. Também é conhecida a história de que ele teria copiado uma música que era executada apenas no Vaticano, e que era proibida a sua cópia, sob pena de excomunhão. Wolfgang, aos 14 anos, ouviu esta peça e chegando em casa copiou-a de memória. Este é um fato verídico, confirmado por duas cartas, uma de seu pai, Leopold, e outra de sua irmã, Nannerl. A irmã, inclusive, conta o detalhe de o menino Mozart ter ficado aborrecido quando retornou dois dias depois à Capela Sistina, quando a peça foi novamente executada, e constatou que havia cometido alguns erros.

Bem, esta peça é o belo Miserere de Gregorio ALLEGRI, compositor e padre italiano (1582-1652) que, apesar de ter composto e publicado uma profusão de obras sacras, é lembrado, sobretudo por esta peça, um elaborado moteto sacro cantado até 1870 pelo coro papal na Semana Santa. O Miserere mei, Deus (Tende misericórdia de mim, ó Deus) é uma versão musicada do Salmo 51, escrita durante o papado de Urbano VIII, provavelmente durante a década de 1630. Aqui uma bela execução pelo King's College Cambridge que vale a pena assistir:



Em tempo: Mozart não foi excomungado, é claro, mas teve que tocar a peça em um concerto de cravo para o Papa.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Um solo Rossiniano nas Matinas


Aproveitando o post de ontem, chamo a atenção para um solo belíssimo desta mesma Matinas de Natal, do Pe. João de Deus. Trata-se do Hodie Nobis, extraído do segundo responsório da peça.

Aqui é possível observar as influências operísticas, sobretudo de Rossini, nos compositores da virada do século em Minas Gerais. Não eram usual solos com a dificuldade técnica desta peça, mas acontece uma modificação nos padrões de escrita a partir de Castro Lobo, pois os solos são constantes, não só nas vozes, mas também nas partes instrumentais. Ao longo do século XIX, isto será uma praxe.

Neste concerto, a solista é Doriana Mendes, excelente cantora carioca, solista do Coro Calíope e do Quarteto Colonial.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Um solo de flauta


São vários os vídeos do Madrigale no youtube. Na exploração de alguns deles, os quais estão contidos em páginas outras que não a do próprio coro, me lembrei desta bela peça que é o  “Dies Sanctificatus”, escrito por João de Deus de Castro Lobo e que executamos em 2007.

A peça faz parte das Matinas de Natal, deste compositor, obra esta da qual eu e o musicólogo Rodrigo Toffolo fizemos uma edição crítica em 2003. De extrema beleza, tem sido executada desde então, quase sempre pela Orquestra de Ouro Preto, talvez a única que se preocupa com a execução regular de obras mineiras do período colonial.

Nesta gravação, que tem a regência de Toffolo, o Coro Madrigale e a Orquestra de Ouro Preto  acompanham o belo solo de um dos melhores flautistas do nosso estado: Alexandre Braga. Este concerto foi realizado na Igreja Nossa Senhora da Conceição, a qual, na minha opinião, possui a melhor acústica dentre as igrejas de Ouro Preto, além de ser de uma beleza indescritível.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Virtual Choir 3 (Water Night)


E em 2012, Whitacre reúne mais de 3000 vídeos, de mais de 70 países, produzindo “Water Night”. Aguardem, pois Virtual 4 já arrecadou os fundos necessários para sua criação. Em breve. Mas, por enquanto, apreciem esta maravilhosa obra:


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Virtual Choir 2.0 (Sleep)


Virtual Choir 2.0
Após o sucesso da publicação virtual de “Lux aurunque”, em 2010 Eric Whitacre partiu para um novo desafio, aumentando o número de cantores envolvidos. Surgiu, então “Sleep”, com mais de 1500 cantores, de 58 países.
Apreciem:


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Virtual Choir


A moda dos coros virtuais já pegou. Basta acessar o youtube e assistir a uma grande quantidade de montagens feitas por pessoas de várias idades e nacionalidades. Mas, a produção séria começou com Eric Whitacre, compositor americano nascido em 1970 e que tem sido um dos principais referenciais na nova música coral. Aqui é possível assistir Lux Aurumque, uma experiência realizada em 2009, a qual envolveu 185 vozes de 12 países.

A ideia é fantástica. O compositor envia um vídeo, aos que se inscreverem, no qual está regendo a peça (além da partitura, é claro). Cada um grava a sua parte vocal e reenvia ao compositor. É feita então uma masterização de todos os vídeos enviados, surgindo, desta forma, o Coro Virtual. Fantástico!!!

Para quem ainda não assistiu um coro virtual, aqui vai:


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobre o livro de Magnani (2)


Escrito em um período em que o maestro gozava de uma consciência musical muito além da compreensão da maioria, este livro tem como objetivo atender a dois mundos muito específicos; é um livro escrito para os homens de cultura, capazes de entender os primeiros capítulos, nos quais Magnani discorre sobre Estética Musical e, o que mais importante para ele neste livro, a Fruição Musical; e é também escrito para os estudantes, tão necessitados de informações proporcionadas por um humanista que viveu a música intensamente durante 80 anos. Em suma, um “manual” formativo.

Entendia ele, que a Fruição Musical raramente é acompanhada de uma verdadeira tomada de consciência cultural, e que um dos empecilhos era a diversificação da literatura especializada, a qual se direcionava (e continua ainda hoje) a uma linguagem literária de elevada inspiração, mas propositalmente afastada do concreto sonoro. Reflexo disto é que, a cada dia se produzem mais e melhores músicos no aspecto técnico, mas com, cada vez menos, um conhecimento cultural muito aquém deste desenvolvimento (esta já era uma das reclamações de Magnani na década de 1990).

Neste sentido, este livro foi montado como um direcionador de estudos para a formação de um músico na acepção do termo, como era entendido pelo maestro, o qual fazia uma distinção clara entre instrumentista e músico. Tanto proporciona uma visão geral de estética, história, orquestração e estilística comparada da música, quanto orienta na busca das informações necessárias para um aprofundamento em cada um destes pontos.
Finalizando: o que dizer de um livro que, há anos, proporciona, a cada nova leitura, um direcionamento claro e preciso, mas sempre novo, para o conhecimento do universo musical?
Viva Magnani!!!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sobre o livro de Magnani (1)


Músicos, ao contrário do que uma boa parte das pessoas acredita, também lêem. Pelo menos, aqueles que, como eu, tiveram a sorte de conviverem com mestres antigos. No meu caso, o contato com o Maestro Sérgio Magnani, grande italiano mais mineiro do que muitos que aqui vivem, foi fundamental para uma paixão pela leitura que extrapola, e muito, o universo da partitura musical.
Dizia ele que o contato com os mestres da filosofia era imprescindível para o entendimento necessário a qualquer maestro no que tange à arte da condução de grupos, mas, ditava uma norma interessante que demanda tempo e paciência a qualquer um, o que, é claro, não vem de encontro às formações em alta velocidade dos tempos modernos. Mas, ensinava ele que, antes de ler os filósofos, é necessário passar por duas etapas de leitura: a primeira, a leitura do máximo que se conseguir dos mestres de sua língua; a segunda, a leitura do máximo que se conseguir dos mestres universais; e, aí sim, entrar em contato com os clássicos (como ele chamava os mestre da filosofia).

Anos foram necessários para que o entendimento de que boa parte da música sacra de vários compositores, da renascença até o romantismo, se baseava intrinsecamente na Divina Comédia de Alighieri, para que a lembrança de Magnani viesse como uma lágrima que traz, de dentro do coração, a lembrança do precioso presente de um mestre, o qual nem sempre foi tão valorizado e compreendido quanto deveria.

Mas, mesmo depois de vários Machados e Azevedos, (sendo O Cortiço o livro de cabeceira) e de Dantes e Shakespeares, cabe citar um que, específico da música, constitui livro que mudou a minha maneira de pensar a música interpretativamente, por se tratar do livro deixado por ele próprio: Expressão e Comunicação na Linguagem da Música. E sobre este, eu falo um pouco no post de amanhã.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ave Maria, de Bruckner


Dizem que Anton Bruckner (1824-1896 )foi um dos compositores mais feios da história da música, mas que sua “feiúra” foi de longe compensada com um coração imenso e uma capacidade de criação musical acima do comum. Compositor e grande organista, deixou um legado de obras corais belíssimo e exuberante, repletos de exemplos de sua capacidade de inventividade harmônica.

Talvez uma das mais conhecidas obras deste compositor seja o exuberante Te Deum, escrito para coro, solistas, orquestra e órgão. A sonoridade desta peça é indescritível, sobretudo se sua execução acontece em salas de concerto com boa acústica, as quais ampliam os harmônicos dos conjuntos instrumentais proporcionando uma sonoridade celestial.

A Ave Maria é uma das peças mais conhecidas deste compositor, o qual se preocupava muito em desenvolver um repertório sacro coral, nos quais ele se exercitava harmonicamente, inventando um sem número de combinações sem se perder nas modulações que já conduziam para o atonalismo.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O carinhoso Hely Drummond


Tenho descoberto algumas partituras de um certo José Ferreira, no acervo da Rádio Inconfidência, o qual está lotado na Escola de Música da UEMG. Esta é uma história para o futuro, mas, no presente, cabe observar que Ferreira é, nada mais, nada menos, que o pai de Hely Drummond. Uma história familiar de músicos, já que sua mãe também era musicista.

Desde muito novo, Hely tem sido um músico atuante, tocando piano, flauta e violino. Foi músico e regente da orquestra da Rádio Inconfidência. Tocou com um sem número de músicos ao longo de sua vida, seja como músico erudito, em orquestras, seja como músico da noite, em conjuntos.

Como é comum em nossa terra (Ó, Minas Gerais!!! Ai, Minas Gerais), o tempo passa, estes músicos se aposentam dos serviços oficiais e são esquecidos pelas novas gerações, que se consideram “melhores” músicos.

Sorte nossa, que encontramos pelo caminho, fortuitamente, este sujeito, do qual eu ainda pretendo falar um tanto, meio forçosamente, pois sei que ele, quando souber que eu estou falando dele para os outros, vai me olhar meio torto. Mas não faz mal. Eu já sou fã e se conseguir mais alguns, estou feliz!!!

Vejam Hely Drummond tocando uma das nossa preferidas:


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O triste ocaso da Música Colonial Mineira (ainda)


Escrevi este pequeno texto em 16/08/2010. Nestes dois anos e meio, quase nada mudou.

“Estive neste fim de semana em Aiuruoca, sul de Minas, onde fiz uma bela apresentação com o Coral BDMG, cantando música do Colonial Mineiro. Isto fez parte do projeto Coral BDMG na Estrada Real.

Aiuruoca é uma pequena cidade, no melhor estilo interior de Minas, com uma bela praça e uma igreja linda, possuidora de uma das melhores acústicas que eu já vi (quantas belas surpresas de acústica há pelo nosso interior a fora). Além disso, vive às voltas com um acervo de partituras que segue uma rotina mineira, ou seja, pertence a uma banda centenária, a qual não permite maiores acessos ao mesmo.

Mas, hoje não me iludo muito com esta questão de acesso aos acervos, pois não se tem feito muito pela difusão dos mesmos. Tirando os primeiros anos do milênio, onde todos os coros viveram uma febre de execução daquelas obras, motivados pelo belo trabalho realizado pelo Museu da Música de Mariana, hoje, o que vemos, é o completo esquecimento por parte dos músicos e, sobretudo, corais.

Alguns dizem que não é música boa o suficiente, outros que o público não gosta e outros que sua execução é cara, já que sempre há a necessidade de uma orquestra. Será? No primeiro caso, já vi o caso de colegas que se apaixonaram por Lobo de Mesquita, depois de terem considerado, por muito tempo, que ele era comum. No segundo, difícil, pois se não há execução, como culpar o público por não gostar? E no terceiro, podemos executar Mozart com reduções para piano, mas não os compositores mineiros.

Preconceito? Purismo? Desconhecimento? Falta de dinheiro? Ou seria a máxima de que “Santo de casa não faz milagre”? O fato é que cada vez menos executamos a música das Minas Gerais dos séculos XVIII e XIX. Pena.”

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Quando a globalização não respeita os sotaques (acentos)


Algum dos colegas regentes e coralistas já teve o desprazer de ser criticado pela sua pronúncia “engraçada” ao cantar uma peça em inglês, francês, alemão ou qualquer outra língua? E quando a crítica vem de alguém do seu país, falador da sua própria língua e que conhece bem a outra língua em questão?

Pois é. Em tempos de globalização e youtube, qualquer pessoa pode criticar, exigindo uma perfeição quando compara aquilo que outros fazem, com aquilo que ouviu em um belo disco de um belo coro de um outro país. Mas, o mais interessante é quando, na mesma lista de comentários, alguém, nativo de outro país, diz que sua pronúncia é mais clara do que alguns coros daquele país. Entendamos o nosso tempo!!!

Me permitam mostrar dois coros, do outro lado do mundo, cantando em português. Devo eu criticá-los? Confesso que a coreografia do terceiro me incomoda um pouco, mas, ainda assim, gostaria de assisti-los ao vivo.




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Otacílio Barreto - Maestro


No dia 06 de fevereiro de 2000, perdíamos o maestro Otacílio Barreto, um colega e amigo da Escola de Música da UFMG. Foi uma perda lamentável, pois ele estava no início de uma promissora carreira como regente, tendo sido brutalmente assassinado. Conseguiu à frente do Coral Usiminas realizar um trabalho impressionante de qualidade coral, se tornando rapidamente uma referência não só na nossa capital, mas em outras cidades do Brasil e no exterior.

O triste é que, passados 13 anos, somente nós, os que o conhecemos bem, nos lembramos dele. Não vejo menções na internet e com dificuldade consegui imagens, além de vídeos com uma qualidade de som que não fazem jus ao lindo trabalho realizado por ele. Mesmo assim, aqui fica registrada a lembrança do Madrigale deste grande maestro de uma outra época.




terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Encabulada (vídeo Madrigale 2010)


Encabulada, de Antonio Carlos e Jocafi. Aqui o arranjo é de Hely Drummond, feito para as meninas do Madrigale.

Ah, sim, para quem não sabe quem são este compositores, aqui vão alguns informações:
Dupla de compositores baianos, Antônio Carlos Marques Pinto era guitarrista da orquestra do maestro Carlos Lacerda e Jocafi (José Carlos Figueiredo), que chegou a estudar Direito, tinha algum prestígio na Bahia como compositor quando se conheceram, em 1968. Tiveram diversas músicas interpretadas por Maria Creuza, que mais tarde casou-se com Antônio Carlos. Na década de 70 trocaram a Bahia pelo Rio de Janeiro e gravaram alguns sucessos pela RCA, como "Você Abusou" e "Toró de Lágrimas". Participaram de festivais no Brasil e no exterior, tiveram composições inseridas em trilhas sonoras de novelas e minisséries e continuam se apresentando e gravando.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Postagem de vídeo no youtube (Lacrimosa)


Iniciamos a semana postando uma parte do Requiem de Mozart cantado no último ano. Esperamos que gostem.Iniciamos a semana postando uma parte do Requiem de Mozart cantado no último ano. Esperamos que gostem.


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Houghton College Choir


Por 80 anos, o Houghton College Choir tem o compromisso de realizar performances enraizadas na tradição de música sacra a cappella. Liderados pelo jovem maestro Dr. Brandon Johnson, o Choir College já se apresentou em salas de concerto de renome e igrejas nos Estados Unidos e no exterior.

Amplamente aclamado por sua arte e sensibilidade, o Houghton College Choir defende a tradição coral de suas origens, de forma flexível abraçando a diversidade de estilos. O coro tem o prazer de trabalhar a música sacra coral, seja ela uma missa da renascença, um moteto barroco, ou um negro spiritual. Desde a sua criação em 1931, o Houghton Choir College tem se apresentado por todos os Estados Unidos e Europa.