terça-feira, 26 de março de 2013

As Sete Palavras (3)


O Sermão das Sete Palavras, ou, melhor dizendo, os Sermões sobre as Sete Palavras de Cristo na cruz, fazem parte dos rituais da Igreja Católica de celebrações da Sexta-feira Santa, ocorrendo antes da cerimônia litúrgica desse dia, a qual é celebrada normalmente às 15 horas, horário tido como aquele em que Jesus teria falecido. Durante determinado tempo, o celebrante faz um sermão sobre cada uma das frases, chamadas palavras,  ditas pelo Cristo no seu martírio na cruz. A celebração normalmente ocorre das 12 às 15 horas. Quando há a participação de um coro, o mesmo entoa o canto logo após a apresentação, por um orador, de cada uma das “palavras”. As Sete Palavras de Christus Cruxificatum é a peça mais significativa para coro de Hostílio Soares, ou pelo menos foi aquela que mereceu sua maior atenção. É dividida em sete partes independentes, tendo sido pensada para apresentação funcional, ou seja, para ser cantada na cerimônia do sermão das Sete Palavras, o qual antecede a cerimônia religiosa da Sexta-feira Santa.

Poucos compositores escreveram peças voltadas para este momento específico da Sexta-feira da Paixão. Desses, podemos citar as Sete Palavras de Heinrich Schütz e as de Joseph Haydn. A explicação para isso é que o Sermão das Sete Palavras não faz parte das cerimônias litúrgicas da  Igreja Católica Romana, mas sim, das cerimônias para-litúrgicas, ou seja, cerimônias que existem em determinadas regiões, ou até mesmo cidades, mas que não gozam da oficialização universal de Roma. Em alguns lugares, ele é parte integrante de uma tradição que se transmite por influências regionais, tendo se mantido principalmente nos países ibéricos e, no passado, em suas colônias, o que é o caso de sua existência em Minas Gerais, sendo ainda hoje mantido em cerimônias no interior do estado.

A peça de Hostílio Soares foi dedicada  aos 75 anos da sua mãe e escrita, originalmente, para três vozes (soprano, contralto e baixo) e harmônio, sendo executada, pela primeira vez nas celebrações de Semana Santa de 1945, em Visconde do Rio Branco.

Quando da composição desta peça, Hostílio Soares pensou a  estrutura vocal da obra para o Coro Santa Cecília de Rio Branco, o qual se manteve após a partida do compositor para Belo Horizonte, o que pode ser afirmado quando observamos, além das Sete Palavras, outras partituras do período em que Hostílio esteve à frente deste coro, as quais são estabelecidas para a mesma formação, três vozes, sendo duas femininas e uma masculina (soprano, contralto e baixo). Até o final de sua vida esta partitura foi alterada, sendo a primeira versão extremamente simples, principalmente sob o ponto de vista harmônico, quando comparada à última.

Desde a década de 40, Hostílio manteve o hábito de organizar e conduzir musicalmente o cerimonial religioso em sua cidade natal no período das festividades da Semana Santa. Para isso, além de contar com vários cantores e músicos de Visconde do Rio Branco, também levava colegas músicos de Belo Horizonte. Em todos os anos as Sete Palavras eram entoadas, tornando-se uma peça tradicional e significativa para os conterrâneos contemporâneos do compositor. Já a versão moderna, foi poucas vezes executada durante a vida de Hostílio. 

Querem ouvir trechos, acessem:


segunda-feira, 25 de março de 2013

As Sete Palavras (2)


Vários, em Belo Horizonte, já me ouviram contar esta história, mas aqui vai novamente:
Em 1995, eu fazia o meu curso de regência, na Escola de Música da UFMG, sendo aluno da classe de instrumentação e orquestração do prof. Oiliam Lanna. No dia da distribuição de obras para o semestre, quis o destino que eu me atrasasse e, ao entrar na sala de aula, me deparei com o mestre com uma partitura nas mãos tentando convencer um dos colegas a aceitá-la. Não deu outra, olhou para mim e disse: “Você trabalha com coros. Está na medida certa. É sua.” A peça? As 7 Palavras.

Naquela ocasião, o Coro Estável da Escola, sob a regência da Maestrina Eliane Fajioli, preparava a peça e precisavam de uma orquestração para um concerto de semestre. Meu trabalho seria orquestrar uma das peças, mas o que aconteceu foi que eu me apaixonei de tal forma pela obra que elaborei um trabalho sobre todas as peças para orquestra de cordas.

E lá se vão 18 anos de convivência com as Palavras do Hostílio. Muitas execuções e não consigo dizer qual foi a melhor, e com que formação do Madrigale. Todas foram, e continuam sendo, muito intensas.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Concerto Hostílio Soares


Neste ano, o Coro Madrigale completa 20 anos. Iniciaremos nossa temporada de concertos, no próximo dia 26 de março, interpretando uma obra que nos acompanha há anos e que é extremamente importante na nossa história: As 7 Palavras, do compositor mineiro Hostílio Soares. Nos acompanhará, ao piano, o maestro Oiliam Lanna. Imperdivel!!!

Dia: 26/03/2013
Local: Conservatório Mineiro de Música (Afonso Pena, 1534)
Horário:  20h00
Ingressos: 20,00 (inteira) / 10,00 (meia)

Cartaz feito pelo Fred Aflalo (Amigo do Madrigale)

terça-feira, 19 de março de 2013

Hostílio Soares e as 7 Palavras (1)


Falando sobre Hostílio Soares, nosso amigo e tema do próximo concerto:
Nasceu em novembro de 1898, na cidade de Visconde do Rio Branco, Minas Gerais. Era filho do Sr. Theodolindo José Soares, mestre de banda daquela cidade, de quem teve suas primeiras lições musicais.
Depois da morte de seu pai, em 1918, fundou e dirigiu a primeira orquestra de cinema em sua terra natal, transferindo-se mais tarde para a cidade de Campos (RJ) onde integrou a Orquestra do Cinema Orion, durante quase dois anos, como 2º violino. Foi contratado para organizar e dirigir a orquestra de cinema do antigo teatro Melpômene, em Vitória, Espírito Santo.

Deslocou-se para o Rio de Janeiro em março de 1923, onde estudou no antigo Instituto Nacional de Música, atual Escola de Música da UFRJ, tendo como professores Paulo Silva (Harmonia, Contraponto e Fuga) e Francisco Braga, (Composição e Instrumentação). Terminou o curso em 1928.

Fundou e dirigiu, durante 6 anos e meio, em Visconde do Rio Branco, a Escola de Música Francisco Braga e o Côro Santa Cecília, da Matriz de São João Batista. Mudou-se para Belo Horizonte em 1931, onde passou o resto de sua vida. Foi um dos regentes da antiga Sociedade de Concertos Sinfônicos de Belo Horizonte, fazendo sua estréia como compositor em Dezembro de 1932, à frente da referida orquestra, no Teatro Municipal desta cidade, atual Teatro Francisco Nunes.

Em 1936 conquistou o primeiro prêmio no concurso de Suítes Brasileiras, instituído pelo Departamento de Cultura, de São Paulo, com a peça Suíte Brasileira para banda e coro misto facultativo.

Foi catedrático de Contraponto e Fuga do Conservatório Mineiro de Música de Belo Horizonte, e professor designado para as cadeiras de Harmonia Elementar e Superior, Composição e Instrumentação durante 34 anos.
Entre suas obras se destacam: a Sinfonia 'Annie Besant', para grande orquestra; a ópera em 4 atos 'A vida' (Poema e Música"); as 'Sete Palavras' (Texto latino e português", para a Sexta-feira da Paixão); e de toda a música para o Sábado Santo da liturgia católica restaurada.

Conquistou, em 1951, o primeiro prêmio no concurso entre compositores residentes em Minas Gerais, instituído oficialmente pelo Governo de Minas Gerais, com sua Sinfonia 'Krishnamurti', para orquestra de cordas; em 1961, com a sua Sinfonia Descritiva 'Brasília'; em 1962, com a Missa Solene 'São João Batista', para coro misto a 6 vozes, solos, órgão e orquestra de cordas; em 1963, com o Álbum de Canto e Piano (5 peças em vernáculo); e em 1964, com a ópera de câmara 'História do Asceta e a Dançarina', em 1 ato. Dirigiu a estréia mundial da ópera 'O sertão', do Maestro Fernand Jouteux, em Belo Horizonte, no dia 29 de novembro de 1954.

A partir da década de 70, retirou-se do cenário musical belo horizontino, dedicando-se à restauração e revisão de suas obras. Faleceu em 1988, aos 90 anos, em sua cidade natal.

Hostílio Soares, ao centro, com alunos da Escola Francisco Braga, em Visconde do Rio Branco (circa 1930)

segunda-feira, 18 de março de 2013

Concerto Madrigale


No próximo dia 26, às 20h00, o Madrigale iniciará sua temporada de concertos 2013. Neste ano comemoramos o nosso 20º. ano de existência e programamos uma série de concertos especiais para o nosso público, iniciando com este compositor que foi e continua sendo extremamente especial na história do Madrigale: Hostílio Soares. Falarei sobre ele no próximo blog, mas adianto que cantaremos A obra principal, para nós, do seu acervo: As Sete Palavras de Christus Cruxificatum, sobre a qual também falarei. Iniciaremos, desta forma, com o pé direito.

Hostílio Soares

quinta-feira, 14 de março de 2013

Eli! Eli!


Como estamos nas proximidades da Semana Santa, postarei, até lá, algumas obras corais referentes a este momento tão importante para os cristãos.
Eli! Eli!, escrita em 1933, de forte dramatismo e dificuldade interpretativa, é a obra mais conhecida de György Deák Bárdos (Budapest, 1905-1991), um dos melhores compositores húngaros do século XX. A letra, extraída do Evangelho de São Mateus (Mt 27,46), reproduz as últimas palavras de Jesus, agonizando na cruz:

"Et circa horam nonam clamavit Jesús voce magna dicens:
Eli, Eli! Lamma sabacthani"
(Próximo da hora nona, Jesus clamou, com um grito, dizendo:
Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?)


quarta-feira, 13 de março de 2013

Saia do meu caminho


Postando o belo arranjo de “Saia do meu caminho”, de Custódio Mesquita e Ewaldo Ruy, feito por Hely Drummond para as meninas do Coro Madrigale.
“... e você francamente, decididamente, não tem coração.” Maravilha!!!



terça-feira, 12 de março de 2013

Accentus (transcriptions)



Sem dúvida alguma, o melhor coro francês da atualidade é o Accentus. Fundado e dirigido pela maestrina Laurence Equilbey desde 1991, este coro de 32 cantores se esmera em apresentar o que há de melhor do repertório coral a cappella, não só de música francesa, mas da música universal.
Em 2007, produziram um cd com transcrições de obras célebres do repertório instrumental para coro. Uma destas peças é “Kein Deutscher Himmel”, que na verdade é o Adagietto da Sinfonia n. 5 de Gustav Mahler. Observem a precisão de afinação e a extensão da soprano solista. Belíssimo!!!


segunda-feira, 11 de março de 2013

As costureiras


As costureiras 2
Em junho de 2010, o Coral da Assembléia produziu um belo encontro de corais. Naquela ocasião, fomos convidados para encerrarmos o evento, cantando dentro da programação do Segunda Musical, importante evento realizado pela Assembléia Legislativa. Uma das peças que cantamos foi “As costureiras”, de Heitor Villa-Lobos, acompanhada por Hely Drummond.



quinta-feira, 7 de março de 2013

Tamos aí (um arranjo do Hely para Elas)


Em setembro de 2010, as meninas do Madrigale se uniram ao Hely Drummond e apresentaram um HelyElas aumentado de alguns novos arranjos. Se procurarem os posts daquela época, eu falava sobre a empatia que ocorreu entre este grande músico e as cantoras do coro.

Aproveitando um antigo arranjo de abertura do espetáculo feito pelo grupo Cordas & Vocais (formado por professoras da Escola de Música da UFMG e um trio de músicos, do qual Hely Drummond era o líder, pianista e arranjador), este HelyElas foi aberto com o Tamos Aí, música de Maurício Einhorn / Durval Ferreira / Regina Werneck. Na sequência, Samba de uma nota só, de Tom Jobim e Newton Mendonça. Espero que gostem:


quarta-feira, 6 de março de 2013


Ah! Como é bom ver crianças cantando assim. Ultimamente, com o interesse das escolas em terem suas crianças cantando (se apresentando), têm surgido, salvo algumas exceções, vários coros de crianças com uma qualidade, no mínimo, duvidosa. Na maioria do caso, sempre é possível afirmar que o problema está quase sempre na pecinha; na pecinha que fica à frente do coro.

Perdoem-me a ironia, mas tendo uma formação de menino cantor, sempre entendi que das coisas mais difíceis que existem é o trabalho com vozes infantis. Com certeza, é muito mais complexo do o que o trabalho com vozes adultas, e muitos dos que se arriscam a trabalhar com crianças não têm a devida formação para tal.

O que tenho percebido, ultimamente, aqui na nossa terra: tons errados; naipes mal classificados; repertórios inadequados; desconhecimento das melhores regiões vocais infantis; maior preocupação com o teatro do que a música; pouca disposição em educar musicalmente as crianças. Enfim, crianças cantoras podem fazer qualquer coisa quando bem educadas vocal e musicalmente. Além disso, se bons cantores são formados na infância, melhores os cantores que uma cidade, região ou país terão. Isto não quer dizer que os meninos têm que cantar notas agudas ou graves, mas cantar da maneira correta.

Uma pena! Muito a falar, mas pouco espaço, mas fica um recado: atentem-se todos com as formações que podem prejudicar as vozes infantis, pois disto dependem o coros adultos do futuro.



terça-feira, 5 de março de 2013

Westminster Chorus

Nós, no Brasil, não temos o hábito de trabalharmos coros de vozes iguais (apenas mulheres ou apenas homens). Isto acontece muito nos países onde existe a tradição de meninos cantores ou de internatos para meninas e meninos, o que é o caso de Westminster, tão conhecida pela riqueza dos coros, sobretudo do “Westminster Abbey Choir”, coro de meninos.

A riqueza de timbres e efeitos possíveis nestas formações é enorme, mas sempre há a necessidade de um maior número de integrantes para que se possa dividir em mais de dois naipes. Observem a beleza da integração, afinação e técnica deste coro, Coro do Mundo em 2009.



segunda-feira, 4 de março de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

Hostílio Soares


Estamos nos preparando para o próximo concerto do Madrigale, o qual acontecerá no dia 26 de março no Conservatório da UFMG. Neste concerto, apresentaremos peças de Hostílio Soares, com destaque para as 7 Palavras, obra que acompanha o Madrigale há anos. Sendo um compositor importantíssimo na história do Madrigale, não deve ser jamais esquecido por nenhum de nós, do coro, e se estivesse vivo, Hostílio completaria 105 anos neste ano.

A história de envolvimento com ele começou em 1995, quando eu tive o contato com as 7 Palavras, escritas por ele em 1945 (primeira versão) e 1970 (segunda versão. Por ter chegado atrasado em um aula de orquestração, meu professor Oiliam Lanna resolveu me dar o “castigo” de orquestrar um peça que deveria ser cantada pelo coro estável da Escola de Música da UFMG no mês seguinte. Já que se tratava de um compositor brasileiro, mineiro e desconhecido, ninguém queria topar a parada. Como meu anjo de guarda é bom, me fez atrasar naquele dia para que eu tirasse a sorte grande. Dali começou uma história de cumplicidade que gerou o resgate das 7 palavras, da Missa São João Batista, da Missa Sábado Santo, da Sinfonia em Sol Maior (Krishnamurti), de várias canções, da ópera A Vida (em andamento), e, de quebra, ele foi o objeto da minha dissertação de mestrado.

Deste contato também resultou a grande amizade com a família do compositor, sobretudo da confiança depositada em mim pela sua irmã, d. Eunice Soares, a qual confiou o acervo de partituras de Hostílio à Escola de Música da UEMG, sob a minha responsabilidade. Ela, infelizmente, também já se foi. Continuamos o trabalho, que ainda deve se estender por anos, mas a grande felicidade atual é que Hostílio Soares não é mais um nome esquecido no tempo.