quarta-feira, 29 de julho de 2015

Reflexões (2)


Ainda sobre regência, e especificamente sobre regência coral, gostaria de chamar a atenção dos que pretendem se direcionar para esse segmento sobre a importância da regência do canto gregoriano. Nesta, não existem as mesmas regras da regência orquestral, muito menos a precisão do gesto. Mas é ela que nos ensina a observar a fluência e circularidade da palavra.

Enganam-se aqueles que pensam que o gregoriano não tem ritmo, que é livre para ser executado da forma que quiserem. Pelo contrário, é completamente direcionado pela alternância de ritmos binários e ternários, perfeitamente transcritos na bela linguagem da notação neumática e controlado pelas palavras e frases.

Para quem é de ouvir, ouça a bela melodia. Para quem é de reger, pense em como regeria a mesma.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Reflexões (1)

(Repetição de post)

Este vai para os muitos jovens regentes (baseado num bate-papo com um jovem colega-amigo-desanimado-impaciente em outros tempos), repetindo sempre: não desanimem, estudem e, acima de tudo, tenham paciência, paciência, paciência...

Há mais de 30 anos, eu comecei a reger coros. Exatamente da mesma maneira que muitos outros o fazem aqui no Brasil, ou seja, sem conhecimento de técnicas de condução, incentivado por um regente mais velho que, romanticamente, acreditava que eu tinha talento e que, por isso, deveria começar desde cedo a dirigir, a conduzir. Ao longo destes vários anos, muitos cursos foram feitos. Centenas de concertos, realizados. Milhares de ensaios, conduzidos. Uma construção e descontrução da arte do gesto.

A técnica da regência é incerta: a regência orquestral pede uma coisa. A coral, outra. Tenta-se misturar as duas e nem sempre dá certo. Alguns maestros pregam a independência do gesto em função da circularidade das frases, outros acreditam que a prevalência da manutenção do pulso é mais importante. Magnani acreditava que a condução da frase era essencial; Carlos Alberto Pinto Fonseca afirmava o ritmo na virilidade da sua condução, etc. Há como misturar as lógicas? Sim. Vale a pena? Nem sempre. Uma conclusão? É uma arte que demanda estudo e pesquisa do que se faz, tal qual é a arte do teatro de bonecos japonês (Bunraku), que demanda quase a vida inteira para permitir aos artistas movimentarem os bonecos integralmente. Outra conclusão? Não se rege coro como se rege orquestra. Ainda outra? Falta muito para se aprender a reger como meus velhos mestres. (amanhã eu continuo...)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

E este Madrigal Renascentista começou assim...


Três alunos de música, colegas na Escola Pró-Arte de São Paulo.
Alunos de Hans Joachin Koellreutter.
O mais velho e mais experiente na linguagem coral veio passar férias em Belo Horizonte.
Os dois mais novos, desta capital, se reuniram com ele para analisar algumas partituras da renascença.
O mais novo dos 3 resolveu convidar alguns colegas do Conservatório para ajudarem no processo de leitura das partituras. Gente nova, mas com experiência em canto e coral.
O encontro deixou todos eufóricos e eles resolveram montar um coro de férias para degustarem a “nova” música.
O pai de um deles, Alberto Pinto Fonseca, resolveu convida-los para se apresentarem em uma festa na Sociedade Mineira de Engenheiros.
Ensaios todos os dias... disciplina total... apresentação para 600 pessoas... sucesso!!!
Depois disso, dois caminhos: a dissolução ou a continuidade. Para nossa felicidade optaram pelo segundo.
Ah!... Os três jovens estudantes: Isaac Karabtchevsky, Carlos Eduardo Prates e Carlos Alberto Pinto Fonseca.

Simples assim...


ISAAC KARABTCHEVSKY

CARLOS EDUARDO PRATES
CARLOS ALBERTO PINTO FONSECA

sexta-feira, 24 de julho de 2015

E quem está regendo aquele coro?

(Repetição de post de 2014)

Poucos sabem que, antes do grande Afrânio Lacerda, o Madrigal foi fundado e regido por Isaac Karabtschevsky. Aliás, saibam que ele começou a carreira de regente à frente de um coro. E que coro!!!

Mas, uma outra figura foi mais importante para o surgimento do conjunto, pois ele conhecia a turma daqui de BH. Além disso, cedeu sua casa para muitos ensaios e seu pai foi o responsável pela primeira apresentação do Madrigal na Sociedade Mineira de Engenheiros, em 02/02/1956. Mas apesar dos cantores da primeira geração dizerem que ele foi o principal responsável pela criação do coral, isto não é citado em nenhuma de suas biografias. De quem eu estou falando?
Vejam as fotos abaixo do Madrigal Renascentista. Numa ele está regendo e na outra está cantando. Colocarei o nome dele no final, mas façam um esforço para reconhecê-lo.







CARLOS ALBERTO PINTO FONSECA


Carlos Alberto Pinto Fonseca

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A Voz – Maria Lúcia Godoy

Sou um fã incondicional desta cantora maior do nosso país. Além de ter sido uma solista maravilhosa, foi uma das figuras principais na história do mais importante coro de Minas Gerais: o Madrigal Renascentista.
Tive a felicidade de conhecê-la, em 2013, e rapidamente nos tornamos amigos. Certa vez, ao visitá-la, fui presenteado com este belo poema, de sua autoria, que mostra um pouco da relação que ela tem com essa a dádiva que lhe é peculiar. Apreciem sem moderação!

A voz -  Maria Lúcia Godoy

A voz - minha bandeira
Meus alados tesouros
Meu êxtase, minha agonia
Minha arma secreta
Meu cacife no jogo
Minhas conquistas baratas
Meu medo, minha covardia

É a voz que me desafia
Me consome, santifica
Fere as cordas mais tenras
Tange a lira das almas
Afaga os santos no altar

Já nem sou eu, é a voz que me diz
Voz que me ata, me desata, me maltrata
Me lança ao fundo do poço
Me alça ao cimo do monte
Abre as asas sobre mim.

A voz, meus disfarces todos
Minha soberba, minha humildade
O outro lado da face
O mais frágil e aparente
Meu sentimento do mundo

A voz.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Cantor ou corista? Maestro ou regente? Como eu devo me chamar? (2)

(Sequência do post de ontem...) 
Descrições de trabalho para as outras coisas
Muitos de nós que conduzem grupos de canto, que não se definem de uma maneira específica, também ensinam. O termo óbvio para esse trabalho seria professor de canto, mas que sempre me faz lembrar das senhoras de idade em salas de estar de frente me mostrando os passos na frente de um enorme de piano que elas, de alguma forma, conseguiam espremer em sua minúscula casa. E o mais importante, implica um trabalho individual, de um para um , ao passo que eu só trabalho com grupos.
 O melhor termo (e único) que eu usei até agora (e estou aberto a sugestões) é líder de oficinas de canto (singing workshop leader). 
Mas, e se, como eu, você tem um monte de papéis diferentes no mundo do canto?
Como indivíduo, você poderia ser um cantor (solista), membro do coro (em sua igreja local) , líder de seção (da sociedade coral da cidade) , vocalista (que grava sua própria música ) e músico (cujo instrumento é a sua voz) . Eu acho que o termo cantor abrange praticamente tudo isso.
 Mas eu sou um arranjador, regente (quando eu tenho um coro) , compositor (de vez em quando) , professor, criador de apresentações, e conferencista em oficinas - entre outras coisas. Qual o nome para tudo isso?!
 Quando eu trabalhava exclusivamente no teatro , eu costumava me chamar de praticante de teatro para cobrir o fato de que eu criava peças, dirigia, atuava na mesma e ensinava. Mas eu posso me chamar um praticante de canto? Afinal de contas , eu sou um praticante de Voz Natural - mas isso é um pouco prolixo e nem todo mundo sabe o que significa.

Importa o como você é chamado ?
Na verdade, sim .
Torna a vida muito mais fácil quando você conhece novas pessoas ou se apresenta para os patrocinadores. Você começa por explicar que você conduz um coro, e então você tem que refinar um pouco e antes de conhecê-lo meia hora se passou até entenderem a essência do que exatamente você faz.
 Eu tentei evitar isso no passado, dizendo: "Eu faço coisas" . Então, as pessoas pensam que você está sendo rude e evasivo. Ou eu dizia "Eu trabalho com canto", e então a conversa mudava para "Meu tio gosta de karaokê também!".
 E, finalmente, há o seguro . Eu pensei que tinha resolvido quando uma empresa perguntou minha profissão e eu disse ‘regente de coro’ (choirmaster) e eles tinham uma categoria para isso! Mas da próxima vez não havia nada lá começando com 'coro' ou 'coral' então eu tive que dizer que eu era um "professor de canto" (o que eu não sou) . "Em que setor você trabalha?". Eles tentaram me colocar como professor de canto particular, mas eu disse que trabalhava em um centro de artes, às vezes, então agora eles me colocaram no segmento "educação". Assim, muitas seguradoras entendem que eu ensino canto em escolas primárias !
 É só comigo ?
Alguém mais tem esse problema de se definir com precisão? Eu acho que se você está no mundo do canto tradicional ou do mundo coral, isto é bastante comum . Talvez seja apenas esquisitos como eu que gostam de habitar os espaços entre as coisas.

Obs: Chris Rowbury tem 30 anos como professor paciente e carismático, com um estilo relaxado e repleto de humor. Ele conduz as pessoas a cantarem em uma maravilhosa harmonia em uma questão de minutos. Mora no Reino Unido onde conduz coros comunitários e oficinas de canto.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Cantor ou corista? Maestro ou regente? Como eu devo me chamar? (1)


Este é um post de 2013, escrito por Chris Rowbury (de quem eu falo no final) que eu achei sensacional, e que ainda vale para o nosso tempo. A tradução é livre, portanto, aqueles que quiserem ler no original, acessem http://www.choirplace.com/blogs/78/603/singer-or-chorister-choirmaster.
Diz ele:
Eu de repente percebi que eu não sei mais como me chamar. Eu costumava ser um 'maestro' (que achei que soava elegante ) . Mas quando eu não estou conduzindo um coro, como devo me chamar? E o que dizer de cantores? Eles são apenas ‘cantores’ ou são coristas ou membros de coro?
Paus e Pedras podem quebrar meus ossos... (Sticks and stones may break my bones...) (A frase completa é: Sticks and stones may break my bones, but words will never hurt me – Paus e pedras podem quebrar meus ossos, mas palavras nunca irão me ferir)
 Então você é um cantor. Em um coro. Isso faz de você um corista (soa meio fantasioso)? Ou talvez você seja apenas um membro normal do coro?
 Se você não está em um coro e apenas canta por prazer, poderia se chamar de menestrel, ou mesmo de trovador.
 E se você apresentar em público em tudo, poderia até ser uma vedete (com tudo o que este termo implica ) ou um crooner. Ou simplesmente um performer ou um artista.
 Se você é cantor de uma banda , você geralmente é chamado de vocalista, que é  o mesmo termo usado, às vezes, para os cantores de apoio (backing singers). E se você não canta fora do seu banheiro você poderia ser um cantor amador ou um rouxinol.
 Eu suponho que se você leva isto a sério, vai se referir a si mesmo como um músico: "Minha voz é meu instrumento." E se você ajudar os outros a encontrarem suas vozes, você pode até ser um músico comunitário.
 (... mas nomes não podem me definir)
Eu peguei o termo ‘maestro’ assistindo de assistir Gareth Malone na TV. Eu procurei em um dicionário e ele dizia : "Uma pessoa que treina , lidera ou conduz um coral." Soa muito pontual para mim! Mas e os pequenos conjuntos de canto que eu costumava "treinar , liderar e conduzir"?  Eles não eram coros, então eu não era um maestro. Na verdade, qualquer termo com a palavra "coro" não permitiria (?) .
 Que tal regente ou diretor musical? Bem, eu fiz mais do que apenas reger, e mais do que simplesmente dirigir. De boca cheia acho que eu poderia dizer que eu era o líder de um pequeno conjunto vocal. Mas as pessoas podem ter pensado que eu era a voz principal, como o violinista principal (spalla) em uma orquestra, em vez do professor, regente, diretor e arranjador.
 Se maestro soa demasiado informal, então você pode sempre usar diretor de coro, ou regente coral, ou, menos formalmente, líder do coro. Embora todos sejam um pouco elegantes e chiques para o meu gosto e evoquem pensamentos maçantes e empoeirados.
 Se se sentir humilde, você poderia ser apenas o facilitador do coro. Se megalomaníaco, escolha chefe ou maestro. Eu, para mim, prefiro ditador benigno.

(Amanhã eu continuo...)

segunda-feira, 20 de julho de 2015

As cantoras da foto



Esta foto foi tirada no dia 02 de fevereiro de 1956, quando o Madrigal Renascentista fez o seu primeiro concerto, regido por Isaac Karabtchevsky, no auditório da Sociedade Mineira de Engenheiros, em Belo Horizonte. Infelizmente não temos uma foto dos rapazes daquela primeira apresentação, e por intermédio da ex-cantora Terezinha Miglio conseguimos identificar as belas moças.

Cantoras fundadoras do Madrigal Renascentista. Da esquerda para a direita: Carmen Lúcia Gomes Batista; Clementina Lima Costa; Maria Lúcia Godoy; Yeda Prates Octaviani Bernis; Norma Augusta Pinheiro Graça; Ana Maria Godoy; Alda Perilo; Lúcia Amélia Prates; Lucíola Teixeira de Azevedo; Maria Amélia Martins, Maria Amália Martins e Terezinha Miglio. (Acervo Madrigal Renascentista)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

“O Coro do Brasil”


Na tese que acabei de defender, o Madrigal Renascentista é a personagem principal num momento da história de Belo Horizonte quando os padrões de coro se alteraram a partir do percurso desse coro. É claro que, com o tempo, eu falarei dessa pesquisa e do pouco que se conhece daquele coro, do maestro, do cenário que o envolvia, dos cantores, etc. Para um gostinho, convido-os a visitarem um perfil criado no Youtube para armazenar as gravações feitas até 1965. Aproveitem e conheçam um pouco...



quinta-feira, 16 de julho de 2015

Uma peça especial...


Carlos Alberto Pinto Fonseca nos regeu, em 2004, quando iniciamos os trabalhos da Missa Afro-Brasileira. Naquela ocasião, eu pude assistir ao mestre regendo o Dona nobis pacem sem se mover. Regeu só com o olhar, cantando junto com o coro. Foi impressionante!


Os anos passaram, muitas vezes cantamos a mesma peça... mas eu não pensava que num concurso, num sorteio, eu seria colocado à prova justamente com essa obra-prima do maestro. Obrigado pelo ensinamento, Carlos Alberto!!!

Agnus Dei / Dona nobis (1:50)


quarta-feira, 15 de julho de 2015

Retornando


Meus cumprimentos a todos!!! Após uma ausência enorme, motivada por uma concentração integral ao término do meu doutorado, retorno com esse blog, o qual, lembrando, tem por finalidade informar sobre o Madrigale e, além disso, o que acontece pelo mundo coral (coros, festivais, regentes, concertos, etc.).

Durante o mês de julho, o Madrigale estará de recesso. A partir de agosto a nossa programação se intensificará para cumprirmos nossa boa agenda do semestre. Enquanto isso, tentarei colocar em dia nosso acervo de fotos aqui no blog.

Grande abraço!!!

Arnon Oliveira