sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Pós-Missa no Carmelo


Cantar no Carmelo é sair um pouco do tempo presente e mergulhar em um mundo específico, distante temporalmente do que vivemos. Ver as irmãs depois de alguns anos é sentir proteção, apesar da distância física. Os olhos delas são sempre diretos, sem fugas, nos mirando e expressando uma profunda felicidade com o nosso retorno. E para uma proximidade com esse sorriso - sem pagas, sem afetações, sem fingimentos - vale o acotovelamento, no final, para se chegar perto delas...

Cantar por e para elas é ter a certeza de que a música feita é sempre funcional, escolhida a dedo por elas mesmas, cantada em bom e severo latim, porque elas são musicistas e sabem muito bem o que escolhem e o que querem ouvir. Mas trata-se de uma severidade que não se encontra nas nossas reservas estéticas de músicos profissionais, mas, sim, na busca diferenciada pelo mistério da celebração e da fé.

Na simplicidade funcional, um Kyrie não é uma estrutura ABA, mas o “Senhor, tende piedade de nós”, que é dito três vezes, alternado com o “Cristo, tende piedade de nós”, mais três vezes, e a repetição do primeiro. E que não nos percamos na interpretação de todas as outras partes da missa, cada uma com sua especificidade: de “glorificação”, de “profissão de fé”, de “alegria plena” e, assim, vamos na constituição do ritual pleno da missa católica.


Mas, então, o Madrigale (e o maestro) é um coro católico? Tão católico quanto protestante na vivência da especificidade da interpretação dos Negro spirituals ou das Cantatas e Paixões de Bach... Belo mesmo é a vivência da música funcional, tão diferente da sua existência quando nas salas de concertos...

(Fotos: Ana Cristina Pimenta)
















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