quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Reflexões de Carlos Alberto Pinto Fonseca (7)

Reflexões em torno de elementos básicos da Regência Coral
Encerro a sequência de posts sobre as reflexões de Carlos Alberto Pinto Fonseca com este texto sobre técnica de regência. É claro que o assunto interessa mais especificamente aos músicos, mas não deixa de ser um bom documento de investigação do pensamento do maestro mineiro. Não postarei um dos tópicos, aquele referente à técnica vocal, por considerar que há muitos outros blogs, livros e, consequentemente, opiniões que dizem respeito ao cantores e que podem gerar discussões não pertinentes ao que objetivamos que é a visão de aspectos corais. Sendo assim, vamos a este interessante objeto:

E. TÉCNICA DO GESTO OU REGÊNCIA
            É a técnica de dirigir um conjunto de cantores, conjunto de instrumentos (ou a reunião de ambos) através de uma linguagem universal do gesto
            UNIVERSAL            porque baseada em princípios universais. UNIVERSAL aqui significa compreensível em qualquer parte do globo terrestre. E o oposto de regional: princípio válido só para determinada região ou agrupamento humano. Mais ainda, no caso da Regência, é o oposto de INDIVIDUAL. Assim, um regente que tiver sua técnica baseada em princípios universais se ela estiver bem construída e se a formação do regente é adequada, este poderá reger qualquer conjunto, em qualquer lugar da Terra que se fará compreender imediatamente e alcançará os resultados almejados. Ao contrário (e isto acontece muito com regentes corais improvisados), se ele tem uma “técnica” individual, acaba compreendendo e seguindo (até certo ponto, dependendo de sua intuição ou talento), como se fosse um código entre maestro e seu conjunto, algo só para os seus “iniciados”... Porém (e já vimos isto, na prática), o mesmo maestro vai reger um outro coro, ou vai reger orquestra e... ninguém o entende – fracassa. Já houve mesmo o caso, muito comentado no Rio, de um determinado maestro de coro, europeu, que veio contratado para reger a OSN e, após ensaiar ou tentar fazê-lo, foi mandado de volta para seu país de origem: - ninguém entendia seu gesto. Era simplesmente um regente de coro, que devia ser entendido pelo seu próprio conjunto mas, diante de uma orquestra profissional, não conseguiu se fazer entender.
            Aqui precisamos fazer outra distinção: entre MOVIMENTO ESPACIAL e MOVIMENTO INDIVIDUAL. Uma bailarina faz um “arabesco” no ar com as mãos: é movimento individual. Um avião a jato (incapaz de movimento individual) faz no céu um “looping” ou um “oito” e dizemos: - “o voo do avião é bonito”: é movimento espacial. O corpo ou objeto desloca-se por inteiro, no espaço, mas nossos olhos acompanham seu movimento e nossa memória interrelaciona os pontos que percorre, dando-nos o “desenho” do movimento, Esse desenho podemos reproduzir no quadro-negro, no papel.
            No caso do gesto, o movimento espacial é essencial para a clareza do “desenho”: todo o braço do Regente se desloca por igual, da ponta dos dedos ao ombro. No caso da Regência de Orquestra, que necessita mais clareza, a batuta ajuda termos um desenho mais claro ainda. O movimento individual prejudica a clareza, não havendo unidade no movimento, ele se rompe (no braço/mãos) em articulações que confundem o olhar pela diversidade de pontos simultâneos incoerentes entre si. Vocês podem alegar que há momentos em que a música a ser executada exige clareza e precisão do gesto, enquanto outros exigem é expressividade, intensidade emocional. Certo. E isto está ligado às duas correntes mais antigas da Regência: a “prussiana” e a “francesa”. A prussiana, preocupada com a precisão e a clareza, é “angulosa”, bate os tempos do compasso, marcando pontos determinados visualmente no espaço, como os “pontos cardeais”, ligados por segmentos de reta, isto é, entre cada ponto, a “batuta”, ou o dedo da Regência vai pelo caminho mais curto: “o segmento retilíneo que os liga”. Se é clara, tal regência é dura, anti-expressiva. Em oposição, a regência francesa antiga, vinda da prática do “gregoriano”, também chamada “quironômica”, é toda em curvas. Não sendo escrava do compasso, a música gregoriana desenvolveu um tipo de gesto que acompanha suas flutuações e os desenhos de seus “melismas”, daí uma técnica de regência altamente expressiva e que pode tornar-se ineficiente na medida em que necessito da clareza do compasso e de caracterizar pontos – os tempos ou suas subdivisões – articulados no espaço visualmente. Aqui cabe a pergunta: não se poderia criar uma técnica que reunisse as duas tendências no que têm de positivo e necessário, eliminado seus defeitos? – SIM. MAS ISTO É RELATIVAMENTE RECENTE.
            A TÉCNICA MODERNA TEM TUDO ISTO E TEM AINDA MAIS: permite a seu possuidor a possibilidade de literalmente “TOCAR” o conjunto como se fosse um instrumento.
            Quando o regente não tem tal técnica ele saca no concerto aquilo que ensaiou, que treinou nos ensaios. Quando consegue atingir a proporção entre o gesto e a música e transforma tal conquista numa aquisição própria, que se torna nele uma segunda natureza, então, estará apto a CRIAR, a cada vez que reger: todos o seguirão nos mínimos detalhes do fraseio, dinâmica, agógica, tempo, articulação, etc. E ISTO, PARA UM VERDADEIRO ARTISTA, É FONTE DAS MAIS GRATAS EMOÇÕES E SATISFAÇÕES ESTÉTICAS, PERMITINDO UMA RARA COMUNHÃO ENTRE REGENTE-CORO-PÚBLICO.
            Para chegar lá, porém, é preciso muito trabalho sob orientação adequada. Isto é, pois, a META. Voltamos agora aos princípios básicos “universais”, sobre os quais se pode construir tal técnica. O primeiro passo foi unir as duas escolas: conservou-se os “pontos cardeais” das figuras dos compassos, usados pela regência “prussiana” e, entre tais pontos, em vez de deslocamento retilíneo, colocou-se curvas. Quanto mais a música necessitasse precisão, ficaria a regência mais angulosa, retilínea, marcando os pontos de inflexão das figuras dos compassos; quanto mais devesse ficar expressiva, mas “redonda” se tornaria, mais curva, “adoçando” os pontos de inflexão, que passariam a ser visualizados mais pelas mudanças de direção do gesto. (E, numa pequena frase musical podemos encontrar os dois oposto, donde ser uma regência muito mais rica de recursos, mais completa, mais adequada às variáveis da música!.
            Em relação aos COMPASSOS, podemos relacioná-los com os motores à explosão, quanto aos tempos: motores de 2 tempos, e tempos ou 4 tempos (compassos simples).
OBS: TEMPO, aqui, é o METRO, a PULSAÇÃO básica do ritmo (equivalente ao quadrinho do desenho quadriculado), à “batida do coração”, o pulsar do motor. (Música que põe ênfase no METRO, é “motórica”)
            Em relação às figuras que desenham ou marcam os compassos, vamos pesquisar um pouco, refazer o caminho que os mestres criadores da nova técnica palmilham. Primeiramente, vamos nos indagar algo que todos achamos que sabemos: - O QUE É COMPASSO? Vamos dar uma definição curta: é o espaço compreendido entre duas tesis. O QUE É TESIS? Pé no chão, segundo a métrica grega. Apoio. (Que muita gente boa confunde com ACENTO...) É o oposto de ARSIS, palavra grega que significava pé no ar. (Na prosódia: sílaba tônica = tesis; sílaba átona = arsis).
            Assim, um compasso de dois tempos (binário) seria: um tempo tesis, outro tempo arsis; - um compasso de três tempos (ternário): 1º. tempo – tesis; 2º. e 3º. tempos – arsis; - um compasso de quatro tempos (quaternário): 1º. tempo – tesis; 2º. e 4º.  tempos – arsis, sendo que no 3º. pode  pode o que no 3o.trê teois tempos (binsignificava pmos que sabemos: - O QUE azer o caminho que os mestres criadores da nova thaver uma “meia tesis” o meio apoio (mas não necessariamente, principalmente em tempos rápidos).
            E aqui, nosso primeiro princípio universal: em qualquer lugar do mundo atua a leia da gravidade. Portanto, toda noção de apoio é para baixo. Por isso, toda tesis, todo tempo 1 (um) deve ser embaixo, precedido pela linha vertical que o indica pela queda livre do braço relaxado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário